Eu sou uma ursa, portanto não poderia estar acordada as 01:45 da manhã. Significa que to insone e que algo obviamente me incomoda. Amanhã eu tenho aula e já deveria estar dormindo, no entanto minha cabeça tem vozes que zunem e zumbem… meu senso de alerta foi ativado.
Toda vez que me deparo com uma violência de gênero ou uma racial – violências em geral -, eu fico nesse estado. Ontem, foi inevitável que eu chorasse em pleno campus de faculdade porque um menino de dezessete anos havia sido torturado por seguranças de um mercado por furtar chocolates. O menino é fruto de uma história não reparada, de uma exploração escancarada e prova de que a desigualdade e o racismo são perenes e constantes.
Hoje, a sutileza de uma opinião diferente cria um alerta vermelho em minha mente e faz com que eu questione os tipos de relações que eu estou construindo e vivendo. O quanto eu preciso abrir mão das minhas convicções para não estar sozinha (diferente de solitude, que é bom e eu gosto muito).
Eu sei que o texto não toca diretamente nas questões – são tão íntimas que prefiro deixar nas privacidades (se é que ainda temos) – mas, pincelo o assunto de forma que eu me faça entender que com certa constância eu fico entre escolher estar comigo ou numa relação em que eu só esteja pela metade.
É mais um devaneio antes de eu roncar de cansaço enquanto durmo e ter que ir para aula de meu último semestre de faculdade.
(Aline Ernesto, 2019)
			



