Conversando com uma amiga a qual construo uma relação de longa data — pelo menos 8 anos completos — eu cheguei a conclusão que eu atingi aquele sonho de menina negra, eu tenho amigos.
Quem me conhece superficialmente imagina que eu sou uma pessoa naturalmente extrovertida, forte, decidida e muito segura. Ocorre que essa persona é 1% da minha personalidade, mas, ela se faz 100% pública e se manifesta quase que na totalidade das minhas relações.
Durante a conversa, eu lembrei que quando eu era criança, eu tinha bastante facilidade em conversar com as pessoas, inclusive, saber dos seus segredos. Mas, eu sempre estava sozinha na hora do intervalo, nos grupos de esporte, nas comemorações escolares, e enfim, na maioria dos eventos sociais. E, os meus escritos antigos — os quais eu ainda não tenho estômago para revisitar — solicitavam ao cosmos a oportunidade de ter amizades, de que a solidão não fosse o meu cenário principal.
Eu gosto da solitude. Há uma série de atividades que eu amo que o pressuposto é estar sozinha: a escrita, a leitura e tantas outras atividades naturais de autoconservação. Mas, a solidão imposta é dolorida.
A solidão imposta era, nós gostamos de você, mas não em público. Eu realmente estranhava que as minhas relações de amizade eram semelhantes ao adultério. Em público, muitos desses “amigos” não falavam comigo, me ignoravam, ou me deixavam de uma forma muito desconfortável.
Eu me tornei fechada, dura e confinada. Imbatível. A minha sensibilidade e conforto havia sido por demais gasta.
A cura das feridas é um processo. Poder elaborar essas histórias aqui no presente é o resultado de que o passado, enfim, passou. Óbvio, mas nem tanto. É fácil carregar as dores do passado e deixar com que elas influenciem de modo negativo nas relações afetivas, principalmente nas relações afetivo-amorosas.
O que eu espero de mim e o que eu permito que as pessoas esperem de mim? Quais são as espectativas razoáveis nas relações que eu construo, sejam elas de quaisquer naturezas?
Amar e ser amado não é uma tarefa fácil quando se está tão ferido, tão em carne viva. Se apaixonar e deixar que se apaixonem por mim é um grande desafio quando a memória é a traição constante, a mentira e a humilhação “sutis” e públicas.
Tenho revisitado minhas relações afetivo-amorosas e compadeço de mim mesma. Com os olhares e sentimentos de hoje, eu percebo como eu fui esperançosa e corajosa ao me relacionar. O histórico que eu tinha não era favorável para isso. Eu jamais deixei de tentar ser feliz e construir narrativas diferentes para mim mesma. Isso que é fé na mudança.
Tendo colhido muitos frutos, verdes, podres… e no ponto! Vejo a beleza de cuidar da essência das minhas5 sementes, do mais profundo do meu ser… Sou uma jovem botânica, com muito para aprender.
(Jennifer Ernesto, 26 de novembro de 2020)
			



