Escrevo esse texto um dia e meio antes do meu aniversário porque os dias têm sido imprevisíveis. Ontem foi doloridíssimo, a angústia era semelhante a da adolescência — mas, adulta parece que dói um pouco mais. Há uma obrigação da resolução das coisas:
- É terminantemente proibido estar triste, e se não der, logo te olharão com uma cara de fracassado. Recordo-me com clareza do pós-falecimento de minha avó e a frase de um des/conhecido “todo mundo perde alguém”.
 - Estar doente é escancarar a humanidade negada a todo instante.
 
Aniversariar num ano pandêmico é um paradoxo da virtude e do privilégio, tendo em vista que há um ano o mundo está acometido por um vírus que têm ceifado vidas físicas e simbólicas.
É constante a inconstância… Lá no começo de 2020, todos tentávamos replicar a vida que tínhamos antes da crise. Era trágico, porque ingênuos nós achávamos que conseguiríamos replicar tudo o que fazíamos coletivamente, individualmente, fechados, herméticos e sanitarizados.
A pandemia escancarou o já amplamente denunciado subemprego, força de trabalho, CLT e suas ausências. Ocorre que o SUS nunca foi tão necessário e ainda, vimos que o Brasil Colônia é tão saudoso que assusta.
Para uma mulher negra jovem como eu, sou considerada vencedora… são constantes as minhas dúvidas sobre o que significa vencer… Pela narrativa meritocrática construída, de fato, venci, e dispenso a construção verbal sobre o conteúdo desses vencimentos.
Parece que a humanidade saltou há muito tempo dos edifícios da minha construção. Morta viva tentando não fazer com que as minhas bases se dissolvam.
A linha do tempo é clara para quem tem perspectiva… Hoje, aos 24 tenho mais dúvidas e perguntas do que respostas, apesar de que constatações são as bases dos questionamentos.
Eu gosto de me olhar no passado e ver a intensidade com que eu escrevi sentimentos que hoje eu me esforço para lembrar.
Eu gosto de me olhar no passado e lembrar da braveza com que questionei muitos.
Mas, eu também sinto muito prazer na dúvida e de cada vez saber menos, mesmo que eu estude cada vez mais.
Sinto-me humanamente eficaz nos meus sonhos diversos.
Tão sentimental quanto um pôr do sol.
Tão frágil quanto um recém nascido
Mas, também tão forte quanto os pais que o conceberam
Eu só gostaria de cada dia ter menos a habilidade de jogar meu coração na cara dos outros.
(Jennifer Ernesto, 16 de março de 2021)
			



