Da janela eu vejo uma árvore, mas, você que me lê, não vê sequer a sua representação. O ponto de vista é a vista de um ponto. E, aqui, dos meus 24 anos eu vejo tantas coisas que vocês não veêm. Mas, eu também não vejo muitas coisas que vocês veêm sobre mim. Eis a beleza das relações que a gente escolhe ter; há o compartilhamento dos nossos pontos de vista e de um novo emaranhado. Quando eu namorei, foi assim, foi bom enquanto durou. As vezes, bate muita saudade dos nós, mas eu também me sinto orgulhosa por ter dito adeus. De algumas amizades eu sinto tanta falta que dói na calada da noite – algumas amizades doem mais do que paixões, ok? Outras amizades tantas besteiras bizarras e acabadas na hora certa. Tem aquelas amizades platônicas que parecem amores, a gente amiga a pessoa sem ela saber, igual àquele namoro que eu tive mentalmente quando eu era criança. Essas vinte e quatro primaveras me fazem lembrar da bailarina que eu não fui, da formada e em pós graduação que eu sou (e, nem é tão grande coisa assim – pra alguns, é muita coisa, mas vocês entenderam, né?). É dificílimo crescer sensível sendo mulher negra e escolhendo meus próprios passos, mas eu gosto de todos os passos, os que eu dei, os que eu estou dando e os que quero dar. E, ainda que a gente esteja vivendo em bolhas, num ano pandêmico e eu esteja assustadas com a desaceleração das perspectivas, eu estou grata por celebrar a vida, mais uma vez, mesmo eu sendo ábikù conforme me disseram. Benzida para ser longeva, suguei a bruxaria das minhas avós para quem sabe um dia – ou não – transferir aos meus próprios netos. Parabéns, Jennifer por continuar tentando e sendo você!

(Jennifer Ernesto, 2021)
			



