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Dispenso a saudação para escrever uma carta de despedida. Ninguém está afim de escrever despedida alguma. Enquanto humanos, todos estamos dotados de um sentimento de permanência e de evitação da finitute que nos é próprio. E, sim, já assumo isso de pronto, porque a vida é curta, e é melhor que as delongas sejam evitadas.
Eu teimosamente ignorei a minha intuição em relação aos primeiros sinais os quais me demonstraram que a nossa relação não seria longa. Isto porque se apegar, confiar, estar junto, deleitar-se no outro é uma das melhores sensações conhecidas. Ainda mais para mim, mulher negra que sou e com o histórico que tenho. Infelizmente, fiz — e provavelmente ainda faço, parte do grupo de pessoas românticas, que passam tempo imaginando amores e elaborando histórias de contemplação.
Mas, do momento em que decidimos começar a namorar, ao término daquele filme que assistíamos, eu vi facetas muito específicas da pessoa que eu começava a me relacionar. (1) euforia, bom, normal, né? até aí, eu também estou; e (2) baixa tolerância, bom, normal, né?quem nesse mundo não tem intolerância a coisas, tópicos, jeitos, coisas e situações?
E, passei adiante as outras vivências.
Nessa altura, o leitor já deve ter desconfiado que, bom, essa carta pode até estar sendo direcionada, mas ela fala muito mais sobre quem vos escreve, do que sobre o destinatário. Sim, é proposital. E, não. Há muito das emoções despertadas em mim, pelo seu destinatário.
O relacionamento foi seguindo o seu curso natural, e entre solenidades pessoais, pequenas celebrações e alguns traumas relacionais pré-existentes meus, a minha relação com ele foi se moldando como a mais leve, a mais confiável, a mais agradável e presente. Instaurou-se o apego.
Acho interessante que todo mundo julga o apêgo como algo ruim. O ruim é a sua falta, sua ausência. É aí que vemos o quanto o apêgo é bom, porque ele traz segurança e afago. Quem não gosta de se apegar? Nós não gostamos é do término do período de afeição, do colo… da presença do sujeito/objeto de apêgo.
E como foi gostoso me apegar a você. Bonito, inteligente, charmoso… e, enquanto fui apegada, tudo o que me parece ruim hoje, foi-me demasiadamente bom, e eu pensava: — quero isso para sempre!; — vou casar com esse homem; e todas as juras de amor possíveis de serem feitas quando estamos: amando, apegaso e apaixonados. Tudo junto e misturado, sem quaisquer possibilidades de separação.
No entanto, a família de meu amado despontou suas imperfeições. Me atingiram. E, o cristal da relação trincou, opa, não seria muito cedo para um problema dessa magnitude? Estou demasiadamente desconfortável e envolta numa situação em que de fato não sei como lidar.
De repente vejo que o adulto que eu estava me relacionando, não era mais que um menino há bastante tempo. Tem idade mas, não tem maturidade. Ok, como podemos resolver essa situação?
Entre meus próprios processos de mudanças e escolhas pessoais, vi-me sem apoio de uma das pessoas que eu acreditava estar construindo uma relação adulta. E, sim, eu esperava bastante de uma relação breve, mas que eu já desejava casar com essa pessoa.
Falávamos abertamente sobre morar juntos, sobre constituir família, sobre ter planos. E, não há porque sonhar as coisas boas, excluindo o processo da dificuldade de sonhar. O que isso significa? Na minha cabeça, o desejo da maturidade em conjunto com alguém, significa colocar em prática esses desejos. Então, quando da ausência da visitação à minha casa nova, para aluguel, a qual eu iria morar sozinha mesmo. Uma simples presença em conjunto, isso me chamou atenção.
Estou sonhando sozinha, então? É apenas um sonho. Porque, as possibilidades de concretização estão muito distantes. Inclusive, de um apoio mínimo em uma escolha pessoal que é apenas minha, mudar de casa.
A situação da pouca tolerância, o não companheirismo físico numa situação concreta de mudança de vida, e, a cereja do bolo: como você tratou os meus amigos.
Ao apresentar -fl., -js. e sua companheira, -rc., -ml. e -gl. percebi o quanto você foi ríspido, intensamente crítico e até criou algumas situações que não precisavam.
A primeira foi com -fl., depois, no dia a dia com -rc. e, logo em seguida com -js. Me pareceu que ninguém é o bastante para você. E, me perguntei, vamos ver até quando eu serei suficiente para você.
A última situação confortável que eu me lembro foi a festa junina na sua antiga escola, um ambiente gostoso, convidativo, com sesc depois, e bastante interação. Apesar do meu cansaço, eu estava bastante aberta a interagir e bem conviver com os seus amigos. Coisa em você em relação aos meus amigos, enfim.
Desculpas se muitas situações parecem confusas ou cortadas, ou até mesmo fora de uma linha do tempo. É que, o esforço que estou fazendo para me respeitar diante de tudo isso, separar o que é seu e o que é meu, é gigantesco.
Dali para a frente, DRs., começamos a nos desentender assim que entramos nos assuntos dinheiro, família, relações e tomadas de atitudes. Entre todos os detalhes que você já sabe… comecei a no mínimo ficar cansada. E, não conseguimos nos entender mais.
- você é uma pessoa sozinha;
 - você é uma pessoa que julga, julga para caralho;
 - me incomoda quando você diz que faz terapia há 7 anos, e logo em seguida vem alguma sugestão ou diagnóstico;
 - você não gosta de si mesmo.
 
Foram coisas que você me disse na última vez em que conversamos. E, dispenso a contra argumentação em relação a isso. Eu posso até ter te falado sobre como você é semelhante ao personagem Sheldon, isto porque você tem sido ríspido, você sempre está certo e ninguém mais está. Seja para trabalho, indicação, cursos, pessoas e assim por diante. Um exemplo: a companheira do js. usar homeopatia para se tratar te irritou. Bem como as convicções da mesma. Era um jantar simples para interagir com amigos, não para ninguém passar por qualquer modalidade de análise e escrutínio detalhado.
Além disso, jamais direcionei palavras como um xingamento a você, ou as usei para te ferir. Sempre considerei o homem negro que o é, em cada momento de apontamento.
Por fim, entre toda e qualquer argumentação para exemplificar o quão errado e desrespeitoso você foi comigo, eu apenas quero seguir em frente, não vale a pena dizer nada. A vida é a melhor professora. De fato, eu não tenho mais nada a acrescentar na sua vida, além de tudo aquilo que eu já demonstrei. E, se eu fui tratada da forma que fui, tudo isso não foi suficiente para que eu merecesse sua atenção mínima e extremo cuidado.
Cuidado aonde você pisa, quando for se relacionar com uma mulher negra. Principalmente, a sua mãe, que você tanto ama, mas uma situação emblemática ficou na minha cabeça, o seguinte diálogo:
- ela tinha uma sexualidade pulsante. — você disse.
 - bem, eu não sei, eu nunca reparei. — sua mãe replicou.
 - bem, eu sou homem. — você respondeu.
 
E, por mais subterfúgios que você arranje para explicar a lógica da sua resposta, ela é eminentemente machista.
Enfim, boa sorte com a realização das promessas vazias que você faz a si mesmo,
Jennifer.
			



