Para além do dia a dia da advocacia e outros compromissos acadêmicos que eu tenho, nos últimos dois dias a minha mente tem sido ocupada com reflexões e incômodos acerca dos limites que eu coloco nas minhas relações.
Eu sempre tive dificuldades de dizer não, e ao longo do meu crescimento, amadurecimento e terapia, aos poucos eu fui encontrando certo conforto em dizer o que eu não gosto, não quero e não estou confortável para.
Mas, apesar de eu ter diminuído drasticamente o meu desconforto em negar aquilo que eu não desejo, eu ainda tenho me encontrado em algumas situações em que eu suavizo o meu desconforto para ficar bem com o outro.
Hoje em dia é mais sutil, mas fica óbvio quando a situação se torna algo absurdo ou insustentável para mim. E, o cuidado de uma amiga querida teve em verbalizar para mim que eu não preciso compreender o outro em aspectos que me deixam desconfortável fez uma luz se acender para mim.
A título de exemplo (infelizmente, tem mais de 1, 2 ou 3 — iguais. E, a repetição deve me ensinar algo) homens que me contaram/contam poucos dias depois de me conhecer que eles têm filhos. O desconforto para mim, não era o homem ter filho, mas a descoberta da situação que eu fui colocada após supor que ele seria um homem solteiro, pelo comportamento do mesmo.
E, posso até interpretar como uma ferramenta passivo-agressiva de manipulação. Porque, a depender do tipo e do tempo de envolvimento, será que eu seria capaz de rejeitar uma conexão por um mero deslize?
“Eu pensei que havia te dito. Eu falo sobre os meus filhos o tempo todo.” — disse o meu, o da minha amiga, e tantos outros por aí após alguns dias de contato.
Não posso negar o quão desconfortável estou com a misoginia, e o comportamento dado a mim e minhas amigas pelos homens com quem temos nos relacionado.
Minha terapeuta disse: “ressalvados todas as especificidades de cada caso, eu acredito que os homens tem tido dificuldades de lidar com as novas gerações de mulheres que decidem por si só”.
Eu venho concordando com a minha terapeuta, bem como as discussões de masculinidades, feministas e também do âmbito do questionamento da não monogamia. Mas, esse último é um tópico que eu estou mais lendo em silêncio, e assistindo o desenrolar das relações, e fica para uma próxima reflexão.
O que eu acho de tudo isso? Acho que minha amiga tem razão. Ser bondosa e flexível tem me deixado mais desconfortável do que satisfeita. E, o meu novo desafio é sustentar o que eu quero, os meus desejos e os meus desconfortos e dar mais atenção ao que me serve, mesmo com pessoas aparentemente legais. Até porque, os homens com quem eu tenho me relacionado — e, até em relações de amizade, poucos tem sustentado o desconforto deles em relação a mim de forma carionhosa. Eles tem agido de forma agressiva, superior e como se eu não fosse digna de cuidado.
Eu não acredito na resposta na mesma moeda. Eu quero é aprender mais e mais, a transformar meus desconfortos em lugares de segurança.
Jennifer Ernesto, 07.03.2023
			



