acordei. vi o horário no relógio e pensei “dá tempo, eu posso dormir mais trinta minutos” e é claro que para fazer tudo com a tranquilidade que eu gosto de fazer, não havia tempo suficiente… porque para os perfeccionistas, nunca haverá tempo suficiente para terminar uma tarefa.
sei que parece estranho, mas é assim que acontece. o perfeccionista nunca começa antes, porque ele sabe que tem a capacidade de fazer algo rápido e bom, mas também, ele protela o término, porque considera as coisas sempre inacabadas e passíveis de aperfeiçoamento. ou seja, a maioria dos perfeccionistas – se não todos – são medrosos e procrastinadores profissionais.
ter essa característica como uma das principais da minha personalidade me deixa orgulhosa e claro, profundamente irritada.
isto porque eu sei que farei as coisas com qualidade, mas eu sempre estou numa ansiedade constante de fazer essas coisas. o antes, o durante e o depois são sofridos. o antes: porque eu quero o melhor cenário para começar uma atividade. o durante: porque talvez eu não saiba muito bem por onde ir, mas de repente eu conquisto um flow e vou muito bem, obrigada. o depois: quando eu coloco para o mundo e este mundo pode julgar a minha mediocridade, mas nunca pior do que eu já me julguei.
essa é a minha cabeça e o seu funcionamento num auto desempenho meio esquisito… convivo comigo já há bastante tempo, mas nos últimos dez anos, eu tenho estado um pouco mais ciente das peripécias do meu ego e do meu autoconsciente. eles tentam me proteger a todo e qualquer custo de mim mesma, sim! Cérebros não são confiáveis… eu estou numa intensa jornada para descredibilizar as histórias e fantasias malucas que o meu cérebro conta pra mim.
desmitificar os outros e assumir responsabilidade pelos próprios sentimentos e atitudes é um processo dolorido. mas, de intensa maturidade sobre o que eu vou fazer com a minha vida, como vou viver melhor e como vou descansar.
nessa gangorra de sentimentos, toda sexta-feira de manhã, eu sento na frente da minha analista e falo: “bom, eu não sei por onde começar”. E esses são os dias que a análise mais rende descobertas imperdíveis sobre mim mesma.
e como é olhar para mim?
tem semanas que é dificílimo e não aguento nem me ver no espelho. tem dias que é bom, cool e me sinto orgulhosa. outros, cansada. outros? Enojada… e depois deste texto, eu me sinto um pouco mais íntegra e tranquila, porque apesar de tanta confusão mental e emocional, eu ainda consigo olhar para mim e dar vazão aos meus demônios da mesma forma que eu fazia quando eu tinha 7 anos de idade: escrevendo.
Jennifer Ernesto, 24.06.2024
			



