ganhei este livro de contos de uma amiga que se mudou do Brasil. não planejei ler este livro. ele apenas saltou do meu baú após eu desistir de ler todos os outros que eu planejei ler. eu estava ansiosa demais para continuar naqueles objetivos. eu mudara… não estou com tanta vontade de ler como eu tinha no passado… e bem, eu não lido bem com mudanças.
durante uma crise de ansiedade engatilhada por coisas que eu tenho pouco ou nenhum poder de mudar (imediatamente), eu pensei: vou desligar o celular, os computadores e tentar ler.
e sem querer acabei por decidir ler uma preciosidade que foi ganhador de um Pulitzer nos anos 2000.
de pronto, eu lia e não conseguia focar, e aí fui me sentindo mais ansiosa. parei. fechei os olhos e fiz um exercício de respiração. os ansiosos esquecem de respirar, então fiz questão de lembrar o meu corpo que nada ia adiantar me privar de oxigênio. me acalmei. e aí, consegui voltar para a leitura, e o primeiro conto foi “uma questão temporária”.
um jovem casal enfrenta uma tragédia pessoal e um quase iminente fim de casamento, quando eles recebem a notícia de que a companhia elétrica desligará as luzes por cinco dias seguidos por uma hora. o que era um infortúnio, transforma a rotina de Shoba (esposa) e Shukumar (marido). eles que antes se evitavam dentro de casa, viram-se numa situação diferente e começaram a conversar através de um jogo, o qual eles deveriam contar um ao outro coisas que jamais haviam contato.
um portal se abre e eles se aproximam, até que a notícia de que a companhia elétrica havia consertado os fios antes acaba com a expectativa de reconciliação.
com um final emocionante e inesperado, fica-se com o gosto de se imaginar o que será dali pra frente na vida de um casal que lida com o luto cada um a sua maneira.
eu me senti viva e atravessada.
não tenho vivido algo de tão dramático, mas me senti tão conectada com a dor e a perdição alheia… no sentido de, como traduzir em palavras coisas que as vezes não se consegue assumir para si mesmo?
o conto “quando o sr. Pizarda vinha jantar”, retrata a hospitalidade de uma família indiana vivendo na América recebendo um amigo paquistanês. o cenário dessa história conta com as preocupações durante o conflito entre a Índia, Paquistão oriental e Paquistão ocidental. A família hospitaleira sendo hindu, e o Sr. Pizarda, Muçulmano. Eles em intensa harmonia e preocupação com os parentes, enquanto os seus conterrâneos guerreiam.
A sensibilidade e empatia da história chamam atenção em relação a normalidade versus o caos que as guerras provocam nos corações das pessoas, no seu cotidiano, em seus sonhos e suas perspectivas.
[continua]
jennifer ernesto, 24.06.2024
			



