bom, faz tempo que eu não escrevo e de peito aberto para algum público. na verdade, faz tempo que eu não escrevo para mim mesma. textos um pouco mais longos, despretensiosos e que enfim, tem a finalidade de comunicar meus sentimentos sobre algumas coisas. é que já faz algum tempo, eu fui ficando com mais e mais medo de me expor. sim, eu sou controladora. então, basicamente, eu vivo com aquela fantasia de que eu posso controlar tudo ao meu redor. controlar o que as pessoas pensam de mim, como gostam de mim e assim por diante. mas, essa ideia de que tudo e qualquer coisa depende de mim, apesar de parecer libertadora, é uma prisão.
a ansiedade que eu estava simplesmente para voltar a escrever transcende a minha capacidade de explicar o sentimento. mas, é isso, eu preciso (re)começar em algum lugar, e seguir. os traumas do passado, os meus sentimentos ruins em relação a escrever, ler e assim por diante não vão ser superados sozinhos. e sim, toda vez que eu tento escrever, eu faço um texto deste tipo… mas, vou tentar não me julgar tanto e simplesmente seguir.
tudo isso para dizer que, as coisas que eu mais gosto de fazer se tornam muito difíceis de serem praticadas por mim porque eu me cobro demais e acabo cortando a parte legal e gostosa do processo, que é simplesmente vivê-lo, ser um pouco feliz e aproveitar o que tem que ser aproveitado.
eu lembro que quando eu era criança, eu me sentia tão segura perto das palavras. eu tinha a impressão de que uma caneta ou lápis e um caderno iriam me proteger de todos os males do mundo. mas, o mundo é muito vasto. crescer, amadurecer e conquistar novos traumas e medos acabou por me distanciar de uma atividade que eu tanto gostava e fazia bastante parte da minha personalidade.
e bem, eu sou uma criança de 1997, ou seja, parte da minha vida foi analógica e a outra parte digital. apesar de eu ser a dita Geração Z e estar bastante engajada com uma vida tecnológica e na internet, eu ainda acredito em coisas como escrever, ler… demorar-me nas pessoas, em mim, nos outros… e vivo neste conflito entre ter muito de uma geração e um tanto da geração anterior.
além disso, um dos motivos para que eu volte a escrever é a inveja.
eu tenho muitas raízes artísticas, as reneguei por muito tempo por conta de minhas próprias crenças e a minha criação. que estar ligada às artes não me levaria a nada, apenas ao fracasso e ao sofrimento. entendo de onde vieram esses ensinamentos e eles não estão errados, em parte. no entanto, me causou muito sofrimento ignorar minha vocação e desacreditar dela. isso, me gerou um intenso ressentimento em relação as pessoas que conseguiram viver seus processos, atingir seus objetivos, simplesmente seguir naquilo que elas acreditavam ser o melhor para elas mesmas. e, hoje… elas vivem seus resultados. eu não preciso expor quem são as pessoas que eu invejo, mas de uma forma deturpada, que apenas Freud explica, a minha inveja também está misturada com uma grande admiração.
parece que mais uma vez tantos anos de análise começam a fazer sentido para a minha própria maturidade emocional.
entendam aqui inveja como algo isento de moralidade, mas como um sentimento genuíno de ter o que o outro tem… fujamos do sentido bíblico e cultural que a inveja tem, e vamos nos dar o direito de permitir senti-la. até porque, a inveja é uma boa pista para os nossos desejos.
olhando quem eu admiro, sentindo o incômodo da minha inveja, lido com o meu desejo de voltar a escrever… de me comunicar dessa maneira um tanto arcaica para os dias de hoje, de intensa informação, de informação rasa e muitas vezes questionável… mas, acredito que nesses mares profundos da internet deve ter gente com os mesmos incômodos, anseios parecidos, e tal como eu: mais perdido do que achado, mas trabalhando para encontrar pistas para viver uma vida melhor e mais harmônica.
beijos,
Jennifer Ernesto
24.06.2024
			



