quem é criado na ausência, vai se assustar muito fácil com a presença.
eu sou filha mais velha de quatro filhos e meus pais são casados até hoje, isso significa que eu nasci numa família grande. mas, quantidade de pessoas não quer dizer qualidade de acolhimento. eu não estava pronta para entender isso, até recentemente. e, passei anos da minha vida tentando entender um das diversas confusas equações de relações.
nas amizades, por muito tempo, eu repliquei a máxima de quanto mais melhor. e, falhei bastante no aprofundamento de boas conexões que poderiam ter sido transformadas em relações mais constantes e mais presentes. mas, eu estava apenas replicando aquilo que eu aprendi.
hoje, eu estou experienciando momentos em que meus amigos fazem coisas por mim que eu estive por muito tempo acostumada a fazer, mas nunca receber de volta. isso não é porque eu tinha más relações. mas, de fato, eu possuía dinâmicas relacionais ruins.
nos últimos anos, eu mudei de forma intencional a dinâmica das minhas relações. eu ofereço aquilo que eu recebo.
no começo, eu estranhei. eu fiquei com muito medo de ficar sozinha e todos descobrirem a fraude amiga que eu era. mas, aos poucos, alguns amigos puderam começar a experienciar a participação mais saudável na minha vida.
eu aprendi a dizer não para quem eu amo. e também passei a aceitar melhor as negativas dos meus amigos amores. e assim, o meu campo relacional passou a ser menos ansioso e maior prazeroso.
claro que eu ainda possuo relações desafiadoras e as quais eu não quero falar sobre alguns temas que me incomodam. eu também canso, mas também entendo que muitos dos meus incômodos diz mais sobre mim do que sobre os outros. estes, eu resolvo em análise… e se assim não for sanado, talvez eu leve para os meus amores amigos.
sou fã das ligações demoradas, das fofocas, dos segredos, do passado conjunto, das elaborações intermitentes, dos presentes, das lembranças… e me emociono escrevendo este texto. porque ter amigos, mas melhor ainda: ser feliz nas amizades era um sonho muito antigo, o qual está realizado e sendo vivido.
apesar de ser uma romântica assumida, para mim, os rompimentos de amizades doem mais do que rompimentos de amor. ainda estou triste por umas cinco ou dez amizades terminadas. não me perguntem, ponto sensível.
nos últimos anos, eu dediquei tantos textos sobre amor, raça, classe e gênero. mas, quando eu era mais nova, eu dedicava meus pensamentos à falta da amizade. é bom poder escrever sobre a presença.
toda relação é uma via de mão dupla.

escolherei meus amigos enquanto eu estiver sendo escolhida. e é algo para além do verbal, amor é ação.
o presente é uma bela oportunidade para se fazer presente.
amigos são família escolhida, e apesar de juridicamente não haver muitos privilégios para as relações de amizade, continuarei desenhando futuros e elaborando sonhos. entre classe, raça, gênero, bicicletas e tantas outras coisas a amizade me dá esperança de um bom amanhã.
Jennifer Ernesto, 16.07.2024
Fotos: arquivo pesssoal








			



