depois de escrever o texto “voltar a escrever” e dar de cara com tantas coisas óbvias e não tão óbvias assim sobre os meus sentimentos sobre a escrita, eu fiquei pensando sobre as coisas que eu gostaria de confessar para mim mesma e para as pessoas que eu gosto. talvez, até para pessoas desconhecidas.
“eu sou introvertida”
quando eu disse isso algumas vezes para o meu amigo Wallace, ele disse: “isso é um absurdo”. mas, acho que finalmente ele está começando a entender.
ser uma pessoa que tem a habilidade de fazer muitas conexões, que têm muitos amigos, que em muitos lugares que frequenta está sempre cumprimentando as pessoas e compartilhando histórias íntimas e que as vezes, é impossível andar na rua sem que alguém me reconheça — mesmo não sendo pessoa pública, faz as pessoas estranharem àquela afirmação.
quando criança, eu era tímida e me escondia atrás das pernas de meus pais antes de cumprimentar as pessoas. como a primeira filha, meus pais estavam descobrindo como ser pais, então, eu era fortemente repreendida por este comportamento. eu era uma criança inteligente e rapidamente entendi que ser tímida não me traria benefícios… desesperada por agradar meus cuidadores, aos poucos fui criando a persona sociável, compreensiva e que tem a capacidade de ouvir histórias e não esquecer detalhes.
o que é uma ótima habilidade social, as pessoas querem ser ouvidas, acolhidas e compreendidas. mas, lado ruim é que já me rendeu dates em que a pessoa sequer pensou em perguntar coisas sobre mim, rs. com o passar dos anos e com certa maturidade, ser “a extrovertida” passou de uma habilidade social útil para um grande estorvo.
para mim, ser extrovertida é um grande gasto de energia.
eu escuto um podcast há anos que se chama “The Minimalists” — sim, são os mesmos caras do documentário do Netflix. O fato de eu escutar este podcast daria um outro texto gigantesco — em breve! Mas, o ponto é que um dos anfitriões, o Joshua Fields Millburn é um introvertido nato. No entanto, se você já teve a oportunidade de escutá-lo, de pronto… ele não parece introvertido, isto porque ele praticamente é a alma da conversa, ele guia, direciona… e tenho a leve sensação de que a sua opinião é uma das mais enfáticas.
isto ocorre porque, durante o podcast, Joshua está aplicando as suas melhores habilidades comunicativas e mostrando ao mundo tudo aquilo que ele trabalhou enquanto ficava consigo mesmo.
e, quando eu converso com as pessoas sobre coisas que me são confortáveis, de fato parece que não sou introvertida. e, lembrando que eu tenho muitas habilidades sociais. para perceber meu desconforto é necessário me conhecer ou prestar muita atenção em mim (mas, hoje em dia, em algumas situações eu faço questão de demonstrar o desconforto).
hoje, eu estou mais confortável em me assumir introvertida e declarar que fico exausta física e intelectualmente após longas interações sociais. sim, eu amo dormir, ficar sozinha e em silêncio e simplesmente mexer com as minhas coisinhas.
eu adoro estar com as pessoas… mas, é muito importante, o fato de eu poder estar comigo mesma.
em 2020, eu terminei uma relação com uma pessoa que eu gostava muito porque ele estava me sufocando. ele não sabia ter um espaço pessoal, ele queria ficar comigo o tempo todo — claro, não foi só por isso. mas, isso foi uma das coisas que mais fica na minha cabeça quando eu penso o porquê de eu ter terminado meu namoro.
a minha timidez quando criança e introversão são genéticas. apesar da minha família parecer introvertida, todos são bem tímidos e amam o próprio espaço. todos são falsos extrovertidos. todos são tímidos.
the apple doesn’t fall too far from the tree.
eu tenho lugares secretos e memórias comigo mesma. as vezes me pego lembrando do meu primeiro apartamento quando eu fui morar sozinha e o quanto eu estava feliz dormindo e acordando naquele cubículo, o quanto eu adorava cozinhar e o quanto eu me sentia potente. isso foi aos 20 anos de idade, mas parece que foi ontem que construí tais memórias comigo mesma.
escrever sobre torna o sentimento mais real.
ter criado uma nova personalidade e um novo jeito de ser para me adequar e sobreviver às interações sociais, e agradar os outros moldou a minha personalidade… e, é um longo trabalho mudar esse tipo de rota.
o que você mudou sobre você mesmo para agradar mais os outros do que a si mesmo? o que você pensa que seria incrível confessar sobre si e para si? qual ideia fixa sobre si mesmo que te aprisiona?
(jennifer ernesto, 25.06.2024)
