Direção: Morten Tyldum; Produção: Stephen Hamel, Michael Maher, Ori Marmur e Neal H. Moritz; e Roteiro: Jon Spaihts.

Passageiros é um filme estadounidense protagonizado por Jennifer Lawrence e Chris Pratt, lançado em 21 de dezembro de 2016 nos Estados Unidos e 5 de janeiro de 2017 no Brasil. O filme recebeu duas indicações ao Oscar 2017, nas categorias Melhor Trilha Sonora e Melhor Design de Produção.
Jim Preston é um passageiro da nave Avalon a qual tem como destino o planeta Homestead II. Jim é o primeiro passageiro a acordar após 30 anos hibernando na nave. O que, por seu desespero, constata que foi o único. Ocorre que, por motivos desconhecidos Jim despertou 90 anos antes do término da viagem.
Ele escreve uma mensagem para a terra solicitando ajuda, ocorre que a mensagem demorará 19 anos para chegar a terra, e a resposta 55 assim que enviada. Ou seja, Jim em quaisquer hipóteses morrerá antes de chegar ao seu destino.
O Personagem alterna trabalho, bebidas, comilanças e um quase suicídio durante 1 ano e 3 meses em completa solidão dentro da nave, até que encerra o seu conflito moral de acordar Aurora, uma mulher que ele conheceu o perfil, seu trabalho e seus objetivos e acabou se apaixonando.
A solidão de Jim foi insuportável a ponto de ele decidir egoisticamente encerrar a perspectiva de futuro de uma desconhecida para libertá-lo da dor de estar sozinho e morrer sozinho no espaço.
Não há como mensurar o sentimento de se encontrar sozinho no meio do espaço, com todos os recursos à disposição, a caminho de um destino que jamais será conhecido, porque o tempo da viagem equivale ao tempo de vida de Jim. No entanto, acordar uma estranha, presumindo que eles convivam harmonicamente juntos nessa viagem, sem ela ter escolha alguma, é no mínimo, assustador.
A construção de caráter de Jim é rudimentar, um cara mecânico, que tem a finalidade de uma vida simples, sem muitos luxos. Já Aurora, é uma mulher fina e requintada, que é passageira ouro e que demarcadamente pagou milhares de dólares para a realização da viagem. Enquanto Jim, angariará com todos os custos dispendidos na viagem e com os acréscimos de 20% dos rendimentos de toda a sua vida como engenheiro no planeta Homestead II.
Para mim, é evidente a romantização da violência. A relação de Jim e Aurora é construída em cima de uma mentira sobre o futuro da mulher, o que fica demarcado quando Victor conta para ela no dia de seu aniversário que há exatamente um ano, Jim tinha decido acordá-la.
Aurora quando descobre que Jim, um completo desconhecido, estudou por meses tudo sobre ela, leu todos os seus livros, assistiu os seus depoimentos, e escolheu a acordar, fica devastada. Ela corta relações com ele, e inclusive, quase chega a ponto de matá-lo.
O conflito romântico foge do foco quando problemas maiores são demonstrados. A falha que casou o adiantamento do despertar de Jim foi causado por meteoros que após 2 anos ainda causam danos a Avalon e ameçam destruir completamente a nave.
Tal contexto é revelado pelo tripulante Gus (Laurance Fishburne) o qual também é despertado antes da hora e eles começam a jornada de reparação de falhas em Avalon. No entanto, Gus passa mal e descobre que tem poucas horas de vida, uma vez que a câmara de hibernação danificou consideravelmente seu organismo.
A contextualização do filme não impede a indignação do espectador com os pontos que me incomodaram de modo profundo na trama. A ficção científica é clichê e pobre. A exploração de outros planetas podia ter sido melhor trabalhada, a aposta foi total e completa no romance.
Na minha opinião, a atuação de Jennife Lawrence e de chris Pratt são a salvação do filme. Porque a história é pobre de profundidade sobre o universo de ficção científica em questão e inclusive, serve apenas para reforçar padrões de comportamentos completamente nocivos ao gênero feminino. Como se a escolha das mulheres pudessem ser consideradas irrelevantes.
O problema da história não é a atitude desesperada de Jim arranjar uma parceira arrancando-lhe o futuro. O problema é a romantização desse ato de violência. Por um ato de amor romântico, Aurora desiste da possibilidade de viver 250 anos à frente do seu tempo — tempo de ida, estadia temporária e volta ao planeta Homestead II, para contar a incrível história dessa viagem entre planetas.
A minha geração não precisa mais de histórias que romantizem violência. Nós precisamos de histórias que estionem esses padrões de comportamento, e que inclusive, proponha maneiras de mudá-los, de puní-los e romper essas estruturas tão perigosas para a efetividade da vida humana.
O rompimento da escolha é a retirada da dignidade da mulher. O que ela escolhe fazer a partir disso está danificado pelo ato de terceiro que interrompeu o seu livre arbítrio.
Sim, esse filme me deixou intensamente nervosa. E, se eu fosse mãe de uma garota, ia me dar bastante trabalho desconstruir o ideal de mulher dominada que é pregado em nossa cultura.
Jennifer Ernesto, 04 de dezembro de 2019




