é um livro que começa com a demonstração da dor de amor de Juventina Maria Perpétua (Tina) por Fio Jasmim e termina com uma confraria de mulheres contando seus causos de amor por ele.
Do início ao fim da história, temos a história de Fio Jasmim e as relações com as mulheres que passaram por sua vida. No entanto, a contação pouco nos diz sobre a história de Fio Jasmim, filho temporão de Máximo Jasmim, que aos 60 anos engravidou uma menina de 15. Mas, muito vamos descobrir sobre os sentimentos de suas mulheres por ele.
Fio Jasmim viaja a trabalho (é ajudante de maquinista) pelas cidades e no caminho, vai encantando mulheres, sendo um jovem príncipe negro belíssimo. Seu rastro? Dor, esperança e filhos. Na história não temos certeza de quantos filhos ele gerou até o final da vida, tanto de seu casamento quanto de suas amantes.
Suas mulheres?
Pérola Maria, a esposa oficial que ignora desde antes de casar, o problema de caráter do marido. Neide Paranhos da Silva, a mulher que escolheu ter um filho mas não pediu para que ele fosse pai. Angelina Devaneia Cruz, a que se matou ao descobrir que Fio não pretendia casar com ela. Aurora correa Liberto, a moça que gostava de se banhar nua no rio, e perdeu tal desejo depois que mergulhou na paixão inebriante por Fio. Dolores dos Santos, mais uma mulher apaixonada e enganada por Fio Jasmim, a qual teve duas filhas gêmeas. Dalva Ruiva, a que além dos dois filhos que já tinha, orgulhou-se de enegrecer a família tendo mais três de Fio. Eleonora Distinta de Sá, a única mulher que Fio não teve o desejo de desbravar, e acabou por construir uma relação fraterna. E, Tina, a mulher que jamais pediu a Fio o que ele não podia oferecer, jamais foi penetrada por ele, não tendo nenhum filho sequer… mas, o amou por trinta e cinco anos, até que decidiu partir sem dizer adeus.
De início, eu pensei que o livro traria apenas um retrato poético da masculinidade e das dificuldades do homem negro de lidar com a virilidade, amor, afeto, vazio e, principalmente, com as mulheres.
Mas, conforme os sentimentos das mulheres por Fio vão sendo demonstrados, eu fui por hora me apaixonando pelo homem magnético, e em outros momentos, eu fiquei com raiva de suas atitudes egoístas. A história é cativante. Mas, também senti aquele o gosto amargo que das paixões que não viram amor.
Fio fez filhos, mas não foi pai.
Fio tinha amantes, mas duvido se realmente amou, se foi feliz e preenchido pelas vivências. E, entre jóias e flores, o cortejo masculino e o feminino. Um ensaio sobre a riqueza da afetividade feminina ou da pobreza da masculina? Até porque as mulheres que Fio se relacionou por vezes tiveram conhecimento ou suspeitavam do caráter do homem. Elas sabiam apenas que Fio viajava a trabalho, mas, da mesma forma que nós leitores não sabemos muito sobre este príncipe, elas também não sabiam muito sobre ele.
Ter ódio de Fio é aceitar que as mulheres são ingênuas. Ter empatia demais com Fio é exigir demais razão dos corações que se enamoravam por ele. Acredito que o balanço das perguntas dançam entre a vontade e a crença de mudar o outro. Da disposição para ver a beleza do outro. E, claro, o desejo de viver um risco, a perversidade das paixões.

Como sempre, esse livro demonstra Conceição Evaristo por meio de sua escrivivência. Eu não sou capaz de dizer se ela conta sua própria história ou a dos outros.

P.s.: curioso é comparar as capas das duas edições. A primeira a mulher está no centro com o coração na mão. A segunda edição, o homem está em frente a um autor retrato ou espelho. O que dialoga com as feminilidades e as masculinidades retratadas.
Jennifer Ernesto, 29.03.2023




