Meu primeiro amor era um menino muito bonito. Ele era filho de alguém próximo da família e vivíamos muito juntos, tínhamos pouquíssimos meses de diferença de idade.
Quando eu era adolescente, eu achava que era amor amor adulto, mas era amor puro… e apenas hoje me dou conta de tal acaso.
Quando pequenos, nós brincávamos de casinha e nossa filha era minha irmã ou irmão pequeno. Era fofo porque ele dizia que ia casar comigo, eu sabia que não. Porque esse menino era realmente muito bobo e eu sempre fui muito mandona e tomava meio que a frente de tudo.
Sabe que às vezes eu queria que a gente tivesse crescido juntos? Eu ia achar muito legal compartilhar minhas histórias, minhas dores, bullyings com alguém que me conhecia desde o nascimento. Mas, o que eu consegui assistir foi um distanciamento da minha família com a dele e nossos laços foram se perdendo.
Nos encontramos diversas vezes em nossa adolescência. Inclusive, eu tentei retomar nossas lembranças mas, não pegou muito pra ele. Mas, não esqueci jamais de todo amor puro que nutri por ele… tenho certeza que o amarei até o fim do mundo, até meus filhos brincarem com os filhos dele em alguma festa infantil qualquer… até meus filhos forem adolescentes e eu estar sênior demais para a nostalgia de contar (talvez ler) essa história de meu primeiro amor.
Eu não consigo me arrepender de guardar esse sentimento dentro de mim. Na verdade, eu tenho bastante orgulho. Ter lembranças tão nítidas sobre esse menino é tão aconchegante. Confesso que eu tive desejos intensos por ele no auge dos meus catorze anos, mas afinal, quem não confunde amor puro com a carnalidade do próprio corpo?
Meu menino não lembra de mim, mas tenho certeza que os olhos de mel de criança, que ele ainda tem, demonstram a mesma nostalgia de apenas correr no quintal da casa dele e brincar de esconde-esconde com a curiosidade nata do primeiro amor à semelhança de uma lagoa azul.
(Aline Ernesto, 2019)




