Hoje acordei e não tinha energia
Ouvi o despertador e voltei a dormir. Novamente, eu fiquei até tarde lendo e me perdi em meio a letras e sonhos… em meio a penumbra do meu próprio olhar e os lapsos de memória.
Não lembro ao certo o que sonhei, mas quando me cansei da narrativa, eu senti que estava atrasada novamente para a primeira aula da faculdade. Como eu gostaria de um dia livre para ser autodidata. Algum dia que não fosse fim de semana, fosse dia comum mesmo. No qual eu pudesse eu mesma mergulhar em mim e na aventura do aprender.
Deparei-me com o chuveiro gelado porque não tinha energia, os vizinhos me contaram que roubaram os fios de energia elétrica da região. Fazia anos que eu não experienciava os apagões.
Quando pequena e quando adolescente, os apagões eram comuns. Umas seis vezes no ano a minha família brincava com as sombras e se aproximava do calor humano da presença de não se ter televisão, internet ou barulho.
Fogueiras surgiam, às vezes fogos. Eu penso que a ausência de energia pode vir a salvar o que temos de mais belo. Priorizamos o afeto.
Eu lembrei também que há muitas pessoas que dependem dessa energia, hospitais. Fiquei preocupada. Tudo bem que a ausência de energia me aquece, mas pode congelar outros corpos para sempre.
A vida em sociedade é complexa. Eu saí com uma roupa que costuma ser confortável, mas como meu corpo se transforma nessa época do mês, ele rejeita certos tecidos e acabo por não me caber em mim mesma, muito menos em vários espaços.
Ainda que eu tenha saído na rua e havia muitos carros elétricos consertados os postes de energia, a manhã me parecia calma. Gélida, porém calma.
O mundo funcionava a sua própria maneira e os trabalhos continuavam… talvez poucos de nós tenhamos percebido que sem energia, nos deparamos com a temperatura real da água e com o íntimo de nós mesmos, o medo infantil de se olhar.
(Aline Ernesto, 2019)




