1. que apresenta inexcedível perfeição material, moral ou intelectual; elevado.
2. superlativamente belo, esteticamente perfeito; grandioso, soberbo. “a s. arquitetura do Partenon de Atenas”
É como eu me sinto no ano de 2020. Não me sinto dessa forma desde o 1º dia do ano, nem tive muitos momentos prolongados os quais eu possa considerar sublime. No entanto, é a síntese que me traz esse regojizo. O sublime é poder me sentir inteira, boa — em sentidos amplíssimos, complexa e, principalmente me tornando a mulher que a Jennifer menina sonhava.
Parece que você bebeu a poção secreta, o elixir da vida. É o que eu diria para mim mesma, se eu pudesse literalmente desassociar os meus diversos “eus”. O eu emocional; o eu racional; o eu instintivo… Como não é possível, tento de maneira pobre anunciar que assim eu o faria.
Por coinciência o decreto de fechamento dos estabelecimentos comerciais e empresariais se deu no dia 18 de março de 2020, no dia do meu aniversário de 23 anos. É sabido que eu sou melancólica em aniversários, no entanto, é um marco importante para mim. Não digeri, mas foi estranho. Nesse ano de 2020 eu já havia decidido não comemorar o meu aniversário, porque é sempre um evento dramático no qual eu estou ao mesmo tempo feliz por quem compareceu e triste com quem nem sequer lembrou do meu dia de nascimento. Então, eu havia resolvido parar de perder tempo com o meu drama pessoal e focar no sofrimento natural — a melancolia de ficar velha.
Eu, que sempre sustento a ilusão de que sou uma pessoa mais racional do que emocional, fiz uma série decisões conforme os princípios do livro “Ame e dê vexame”, de Roberto Freire.
Falei o que eu pensava. Esbocei diversas histerias desnecessárias, resolvi me inscrever num mestrado — os quais tinham prenúncios de que seria uma novela latinoamericana com requintes do povo self made — , fingi que acreditava em algumas boas vontades de pessoas brancas, me enamorei de uma personificação de Esú (incrível e ao mesmo tempo autodestrutivo)… Fiz tudo o que o roteiro pedia e não pedia num ano pandêmico!
Mudei de casa por três vezes, não por questões financeiras, mas emocionais e relacionais. Travei guerras silenciosas e por ora venci algumas batalhas (Perdi algumas das quais jamais seriam ganhas, nem com artilharia pesada).
E ufa, cheguei em novembro assumindo que fui terrivelmente adolescente tardia em alguns pontos, mas exageradamente sênior em outros. E, eu vejo tudo isso de forma sublime porque, ainda que os meu ser desejante governou a maioria das minhas ações… eu vivi.
E viver — não apenas sobreviver sobre a constante de outros — é uma dádiva para uma mulher negra jovem no Brasil. E, esse é o meu motivo de celebração.
Narciso me agarrou e esse texto pretende ser um esboço desse afeto.
A autossuficiencia financeira, um equilíbrio emocional considerável, uma beleza e inteligência do meu agrado e as sonhadas ocupações de minha infância fazem com que eu sinta o êxtase da vida, que vibre em cada centímetro do meu corpo. Até mesmo a minha morte seria um grande momento de celebração, isso porque eu to sentindo a vida correndo em minhas veias.
A depressão, a solidão, a desesperança… Já as senti. A apatia, a dor extrema, também. O que sinto no momento é o oposto, e em excesso. Esse fio que liga o 8 ou 80 tem sido a minha vida há anos.
Deixa eu celebrar meu oitenta, porque o oito nem sempre está tão longe.
(Jennifer Ernesto, 23 de novembro de 2020)
Playlist que escuto desde 2017: https://open.spotify.com/playlist/76vpcCsYGbcYjO9hcuXcN2




