Eu estou começando a materializar a distância dos meus oitos e oitentas. Não é que eu não esteja mais sublime, como previsto, a cadência desse sentimento diminuiu. Alguns sentimentos profundos solicitaram atenção e se fazem presentes.
Um relacionamento foi terminado — o meu com um homem, para a minha felicidade. Ainda que eu tenha gostado (amado?) muito, aproveitado a paixão de forma, e que eu sinta saudades deleterminar me trouxe alívio.
No passado, o término me era sentido com ares de que eu sempre estaria insatisfeita com as minhas relações, de que nada seria suficiente para mim, e que enfim, eu era uma pessoa difícil de amar.
O que me faz lembrar que no começo desse relacionamento, esse homem havia dito que eu era “fácil de amar”. A facilidade desse amor era um dos pontos altos da relação. E, antes que eu terminasse, ele argumentou de forma contundente a dificuldade em me amar. O meu ultimato foi selado naquele momento. Oras, se sou tão difícil de amar, porque ele mesmo não optou pela partida? Não me demoro onde não posso amar.
Ocorre que a dificuldade era mais dele do que minha. Na minha perspectiva, o amor é algo fácil. Difícil é o que esperamos dele, o que desejamos em troca. O meu amado desejava e requeria coisas, ações e decisões que não estavam ao meu alcance. Nem sequer estavam nos meus planos futuros.
A relação jovem pereceu rápido demais. Eu estava exausta e sufocada. O alívio ocorreu por que meu espaço e individualidade foram recuperados.
Compreendo que os relacionamentos passam por fases — semelhantes ao processo judicial — fase de conhecimento, fase de execução e sentença. Apelações e outros recursos poderão acontecer, mas, nessa altura a relação está bastante desgastada e os honorários passam a ser mais onerosos do que o planejamento prévio dessa lide.
Ainda que eu não saiba se a minha sentença já fez coisa julgada, eu não intento mais recursos. Esse relacionamento já era uma apelação com muitas preliminares a serem levadas em consideração. Eu, com tantas outras lides em diversos campos, economizei energia para prosperar em terrenos mais férteis.
O fio condutor do meu pêndulo desponta uma certa maturidade e me obriga a viver essa fase de encerramento. Eu aprendi de forma muito eficaz a repreender o que pode me trazer tristeza.
Eu estou bem!
Uma das mentiras mais frequentes enunciadas por pessoas fortes. Porque pelo menos no meu contexto cultural, a demonstração de fraqueza, de sensibilidade pode me descaracterizar como pessoa, o meu juízo de valor estaria extinto perante uma fraqueza.
Então, sofrer um término, sentir-se triste é um grande desafio. Todos querem felicidade e exuberância há todo momento. Todos estão mentindo, na verdade. Todos estão no mesmo fundo do poço denominado existência. Todos estão tentando se distrair da dor — dúvida universal que é a vida!
O indesejado — luto — é a manifestação de humanidade, afinal, o perecimento das relações humanas, bem como da própria vida, é o grande lembrete de como a vida é uma passagem temporária.
(Jennifer Ernesto, 25 de novembro de 2020)




