Ainda que muito coletivo, parte das minhas viagens nessa viagem são pessoais. Tão pessoais, que íntimas. Tão íntimas, que eu não balbuciaria em voz alta os pensamentos que tive sobre mim, sobre você. Sobre nós. E sobre o desmanche deles.
Durante a nossa relação, nós tivemos um atrito sobre a minha viagem que fora planejada anteriormente a nossa relação.
O meu ano novo hedonista de 2019 seria repetido em 2020. Eu planejava repetir a me permitir a experiência com os meus colegas de universidade e de profissão… nem sequer passava pela minha cabeça compartilhar algo tão meu com você.
Não te cabia, não te cabe… e, provavelmente jamais caberá.
E não é porque eu não estava disposta a desenvolver uma relação duradoura e fecunda. Não. Era questão de tempo, de construção, de paciência… e, bem… para você, o tempo imediato eufórico sempre foi a batida da sua vida. Faz como dá, e sem quaisquer tipos de planejamentos.
Esse não é o meu ritmo.
Eu planejo cada detalhe. Eu amo planejar na mesma medida que eu necessito desse planejamento e ele me traz confortos.
Te imaginei sentado comigo nessa casa de praia em São Sebastião. Você se sentiria incomodado pelo rolê ter o custo que tem, pelo rolê ser privilegiado, por x, y e z de organizações, pela cor de pele, pelo trato, você seria o namorado, inclusive preto… inclusive tantas outras nuances que eu mais estaria num cenário de conflito do que de descanso. E, lá atrás, eu desisti do rolê enquanto eu estava namorando com você.
Terminando, eu reatei o meu rolê. Sinal de que muito ia mal, porque tão cedo eu estava abrindo mão de coisas essenciais para mim e minha construção.
A parte boa de estar com você era me sentir bonitas amada, desejada, gostosa, sua… no entanto, um custo muito caro.
Isso faz muita falta a uma mulher negra intimista e profunda. O que eu busco nas relações são fecundidade, durabilidade. São as relações que me preenchem e me dão um prazer substancial.
Eu estou trabalhando sobre as relações triviais…
Seria um rolê a parte dentro do rolê e eu estou curtindo tanto esse rolê pessoal, que eu não sinto a menor falta daquilo que eu gostaria de ter… que eu não teria… porque, eu tenho consciência da impossibilidade prática.
Por um instante, eu lembrei de como o seu rosto é terno e sincero quando você me olha, diz que me ama e quer correr contra o mundo comigo… me salga os olhos, aperta o meu peito… mas, eu sei que essa sensação dura o instante que você declara o seu amor e se esvai quando as sombras que você não trata são projetadas em mim.
(Jenni, 2020)




